Você já ouviu falar em Crossdresser? Em muitas culturas, durante o carnaval, é muito comum ver homens se vestindo como mulheres (e vice-versa) sem que isso seja um problema para a sociedade.
Contudo, pessoas que tem esse mesmo comportamento em outras épocas do ano, transgredindo a heteronormalidade vigente, são consideradas anormais e, inevitavelmente, sofrem todo tipo de preconceito.
Pouca gente sabe, mas nesse panteão de desinformação, além de travestis e transsexuais, existe uma categoria chamada de crossdresser (“o contrário”) que também sofre bastante com julgamentos equivocados.
Muitos são os mal-entendidos relacionados à prática crossdressing, um deles é pensar que essas pessoas são sempre transexuais ou travestis. No entanto, isso é um erro. Ser crossdresser (CD) significa apenas usar roupas típicas do sexo oposto, sem a existência de nenhuma intervenção hormonal ou cirúrgica em seus corpos.
Para um crossdresser, o vestir-se como mulher costuma ser algo esporádico, apenas nos finais de semana, a noite ou em ocasiões especiais onde há uma busca por recursos que possam traduzir sua feminilidade, como depilação, unhas postiças, maquiagem, saltos e meias calças, perucas, etc.
Já para travestis ou transsexuais essa transição é definitiva e ocorre em suas vidas diárias e as intervenções hormonais ou cirúrgicas são uma realidade bastante comum.
Como diz a música “Masculino e Feminino” de Pepeu Gomes, “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino”. Essa ideia possivelmente é grande diferencial do crossdresser, já que ao se mostrar ao mundo com o vestuário do sexo oposto ao seu, não ocorre nenhuma perda de sua masculinidade. Para ser mais claro, se a pessoa CD for heterossexual, o fato de gostar de se vestir de mulher não a faz passar a ter atração sexual por homens.
Então, uma pessoa crossdresser pode sentir atração sexual por mulheres? Sim, claro. Os CD’s podem ter qualquer orientação sexual, contudo, em sua maioria, quem pratica o crossdressing são os homens heterossexuais, muitos deles casados com mulheres.
Quem é crossdresser se sente muito realizado quando é aceito por suas esposas, amigos ou parentes. Quando esse apoio acontece, dizemos que há uma S/O (Supportive opposite ou Supportive other), ou seja, uma pessoa do sexo oposto que dá suporte ao CD.
No Brasil, o termo crossdresser só se popularizou no final dos anos 90 com o surgimento do primeiro Grupo Brasileiro de Crossdresser, o BCC – Brazilian Crossdresser Club. No entanto, apesar do termo só ter ficado popular por aqui nessa época, a prática crossdressing é um costume muito antigo, de vários séculos. A história nos mostra vários exemplos dessa prática em outras épocas. Nos Estados Unidos da década de 1950, já era possível observar o crossdressing, ainda que de forma secreta.
Para resumir, a orientação sexual de um homem que se veste de mulher não está relacionada em nada à prática crossdressing. Assim com qualquer pessoa pode ser heterossexual, homossexual, bissexual, panssexual ou assexual independente do que ela faz ou é, o mesmo ocorre com um CD. Em outras palavras, podemos associar o crossdressing mais a um fetiche / estilo de vida do que a sexualidade de uma pessoa.
Por fim, podemos afirmar que os crossdressers têm muito a nos ensinar, pois graças a eles podemos observar que gênero e sexualidade se cruzam sem que um influencie o outro. Isso ainda confunde muita gente que liga orientação sexual a identidade de gênero, mas os CD’s jogam por terra essas definições restritas sobre a identidade e a sexualidade humana.
Para entender mais sobre o assunto, assista o documentário disponível no Yooutube chamado Bonecas de Papel – Documentário Crossdresser realizado por Laila Oliveira, Luciana Barboza, Cristiane Parnaiba e Ana Carolina Santos, alunas do VI semestre de Jornalismo Vespertino da Universidade Metodista de São Paulo/2010.
Ficou confuso? Leia também o artigo “LGBTQIA+: O Glossário da diversidade sexual.”
Se você é crossdresser e precisa de ajuda para lidar com alguma questão, entre em contato.