É possível um diálogo entre psicologia e religião?

Sempre que compartilhamos nosso sofrimento psíquico com um amigo, familiar ou mesmo um colega de trabalho, é comum ouvirmos conselhos como: “-Você precisa ir para a igreja!” ou “-O melhor psicólogo é Jesus”.
Entretanto, existem algumas diferenças entre Psicologia e Religião, embora ambas as áreas possam contribuir para nosso crescimento pessoal, uma vez que temos influências biológicas, psicológicas, e culturais (que incluem questões espirituais) que definem nossa personalidade.
A busca pela espiritualidade é algo que acompanha o ser humano desde os primórdios da história da humanidade.
Desde que nascemos, somos inseridos em uma determinada cultura que nos é transmitida por nossos familiares ou cuidadores. São essas pessoas que no geral, nos proporcionam os primeiros contatos com nossa espiritualidade.
A espiritualidade faz parte da nossa subjetividade, da maneira como conduzimos nossas ações, como expressamos nossas crenças e emoções e também os valores que defendemos.
Já a religião é tida como uma maneira de exercer e professar a nossa fé espiritual. Religiões como Catolicismo, Protestantismo, Judaísmo, Espiritismo, entre outras, possuem seus rituais próprios, como parte do culto à uma ou várias divindades, a um poder superior ou a algo que é considerado sagrado.
Os membros de determinada religião geralmente costumam se reunir em grupos para praticar as suas doutrinas, e essas reuniões geralmente acontecem em lugares considerados sagrados, como um templo, igreja, mesquita ou terreiro. Dessa forma, assim como aprendemos uma língua, aprendemos uma religião.
Já o ateísmo, que nega categoricamente a existência de Deus, possui uma forma de organização própria. Seus membros se organizam associações ou em grupos virtuais exigindo uma sociedade Laica ou criticando quem acredita em algo superior. Embora essa organização seja diferente das religiões em si, a vivência do ateísmo é vista por muita gente como o exercício de uma “religião”.
Tanto a religião quanto a ateísmo, influenciam os pensamentos das pessoas, ou seja, eles determinam o que as pessoas acreditam ser certo ou errado, aquilo que pode e não pode, o que se deve e não se deve fazer, na socialização e sentimento de pertencimento, nos comportamentos e etc… E, através da fé religiosa o sujeito busca, também, superar seus conflitos.
A religiosidade tem uma influência boa na vida de muitas pessoas, pois ela contribui para a saúde mental e ajuda no enfrentamento de situações como estresse, depressão, uso de drogas entre outros problemas.
É por isso que assim como a Psicologia, a Religião também ajuda as pessoas a encontrarem um alívio para seu sofrimento. Entretanto, cada uma destas áreas oferece uma solução diferente para todas as pessoas que sofrem.
A Psicologia faz parte das ciências humanas e, enquanto ciência, possui métodos e técnicas de investigação do pensamento e/ou comportamento, no intuito de entender como o sujeito “funciona”, para lhe propiciar maior autoconhecimento e compreensão de si.
No discurso da pessoa que procura ajuda psicológica está presente tudo aquilo que é importante para ela e que faz parte da formação de sua personalidade. Isso envolve: Vida familiar, profissional, cultural, espiritual e algumas vezes, a sua religiosidade.
E, é claro, o psicólogo precisará lidar com tudo isso durante a terapia, despindo-se de suas crenças pessoais durante o vínculo terapêutico profissional que constrói junto ao paciente.
No entanto, em todo campo do conhecimento, assim como na Medicina, na Religião e na Psicologia observa-se limitações ao fornecer as respostas que a pessoa busca para lidar com seus conflitos.
Existem então, diferenças entre o papel do médico, o papel do psicólogo e o papel do líder religioso, sendo que cada um pode ajudar o sujeito a partir de uma perspectiva diferente.
Dessa forma, uma prática não exclui a outra.
Uma abordagem integrada geralmente contribui na promoção de saúde e bem-estar das pessoas. Como consequência, não há a necessidade de se sobrepor a psicologia à religião ou de utilizar uma visão restrita sobre a causa dos problemas que em muitos casos, existem apenas no nível dos pensamentos.
É necessário também enfatizar que a psicoterapia não poderá defender nenhuma prática religiosa, nem mesmo recriminá-la, pois tudo o que faz sentido para a pessoa é passível de ser interpretado.
De acordo com o Código de Ética profissional, é vedado (proibido) ao psicólogo: “Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais (…)”.
O papel do psicólogo será, então, entender a relação que a pessoa tem com a religião e como esta relação interfere na sua maneira de pensar e de enfrentar os problemas.