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Eleições 2022: Cuidado com os medos, as fake news e o viés de confirmação.

As pesquisas de opinião sempre sintonizam um momento específico do pleito eleitoral. Mas o resultado das eleições em si, só é conhecido após a contagem dos votos. É justamente a confirmação ou a mudança desse voto que tentarei explicar neste artigo.

A Universidade McGill, do Canadá, realizou um estudo publicado em 2015 que descobriu a região do cérebro que é acionada quando tomamos a decisão de votar no candidato X ou Y

Segundo esse estudo, a região ativada no momento dessa decisão é o córtex orbitofrontal lateral. Entretanto, o estudo identificou dois padrões: quem combina diferentes fontes de informação e toma decisão com base nelas (portanto, de maneira mais racional) apresentava essa área do cérebro em perfeitas condições. Já quem escolhe com base em apenas um atributo que considera mais atrativo tinha danos nessa região.

Mas além de fatores físicos ou neurológicos, há elementos psicológicos que influenciam a escolha de um candidato, como por exemplo, a necessidade de aprovação, a necessidade de pertencer a um grupo e medo do castigo.

Aprovação e pertencimento.

O ser humano é um ser social e como tal, precisa de apoio e reforço ter a segurança de que aquilo que ele fará é a coisa certa. Este fenômeno acontece psicologicamente em tomadas de decisão, inclusive com o voto. Grande parte das pessoas precisam sentir um apoio coletivo, por isso, elas costumam votar no candidato que estiver sendo mais propagado.

É comum que as pessoas tomem uma decisão não porque acreditam naquilo, mas porque a opinião de familiares, amigos ou conhecidos tem grande peso.

Muita gente afirma que vai votar no candidato X, mas na verdade está propenso a votar no Y. Muitas pessoas na verdade tem apenas um receio de assumir posição por não saber lidar com as críticas.

Isso é popularmente conhecido como “efeito manada”.  Se os amigos mais íntimos ou familiares são mais de esquerda ou de direita, provavelmente a pessoa terá opinião parecida.

Isso pode ser comparado, por exemplo, com os hábitos da juventude. Um jovem cujos amigos são todos fumantes sentirá que, se ele não aderir ao hábito de fumar, estará excluído do grupo. Nós humanos somos seres sociais, vivemos em grupo e, portanto, precisamos da aceitação do nosso grupo. É essa necessidade de aceitação que interfere diretamente no nosso comportamento.

Por isso, o voto de manada é algo que faz parte da nossa cultura.  Existem parcelas da população que gostam de votar em quem está na frente das pesquisas. A necessidade de fazer parte de um grupo explica inclusive o comportamento em bolhas e os resultados eleitorais que mostram que em determinadas regiões o voto é mais à esquerda, em outras, mais à direita

Medos.

Nem só racionalidade se faz um voto. É muito comum hoje em dia, vermos os candidatos publicando Fake News como “O comunismo vai tomar conta do país” ou “O candidato Y vai fechar igrejas”. Isso acontece porque esses candidatos sabem que o voto emocional faz uma grande diferença hora de definir o vencedor.   No caso do voto de manada, também existe um aspecto que pesa bastante, o medo de não errar sozinho. Assim, caso o candidato eleito nao seja quem ele se mostrou na campanha, a “culpa” deixa de ser individual e passa a ser coletiva.

Um estudo realizado pela Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, mostra que existem outros medos importantes a serem levados em conta. Esse estudo mostrou aos voluntários a imagens assustadoras, como um homem com uma aranha venenosa em seu rosto e a barulhos altos que causavam sustos. Os voluntários que tiveram mais reações físicas a esses experimentos, como se assustar ou ficar com a pele arrepiada, eram as pessoas que no geral tinham opiniões mais conservadoras e apoiavam, por exemplo, a pena de morte. Os voluntários que reagiam com menos intensidade a esses experimentos eram aqueles que tinham opiniões mais progressistas.

Outra pesquisa realizada pelo psicólogo Yoel Inbar, professor da Universidade de Toronto, no Canadá, chegou a resultados semelhantes. Ele agrupou pessoas de acordo com uma escala de repugnância – ou seja, de acordo com o nível de nojo que essas pessoas sentiam. E submeteu esses voluntários a um questionário político. Concluiu que os mais conservadores politicamente são aqueles que têm mais nojo das coisas.

O relatório dessa pesquisa nos revela que tais pessoas são predispostas a “evitar conviver com aqueles com quem não estão familiarizadas”, “abdicar de uma maior liberdade sexual” e “aderir à práticas mais tradicionais da vida social”. O nojo, portanto, evoca um tipo de medo.

O medo está muito presente na campanha eleitoral brasileira, isso explica por que ambas as campanhas no segundo turno apostam tanto em “não vote em X” e “não vote em Y” – em vez de “vote em mim”

Outra característica muito comum dos brasileiros, a de votar no “menos ruim” ou votar em um para que o adversário não seja eleito foi estudada pelo cientista político Jon Krosnick, professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Esse estudo observou que quanto mais um indivíduo não gosta de um candidato, mais ele se sente motivado a participar do debate eleitoral, ajudando a eleger o adversário do seu “inimigo”.

É por isso que muitos políticos ao invés de focar em suas propostas preferem focar nas características negativas de seus oponentes, mesmo que eles também tenham tais características.

E por fim, outro grande medo que influencia na hora do voto é o medo da punição. Podemos citar como exemplo, nessa campanha eleitoral de 2022, o número exorbitante de fiéis católicos e evangélicos sendo ameaçados com o “inferno” ou mesmo com a expulsão de suas denominações religiosas caso não votem no candidato que o líder religioso considera o melhor. O medo da punição mexe justamente com o sentimento de pertencimento a um grupo ou a uma comunidade, e “ser punido” nesse contexto pode gerar sentimentos negativo como vergonha e ansiedade com os quais muitas pessoas não sabem lidar.

Se você tem qualquer um dos medos citados aqui lembre-se, o voto é secreto e ninguém vai saber em quem você votou.

As fake news e o viés de confirmação.

Tomar decisões é sempre algo muito difícil e uma nova onda que está cada vez mais presente nas eleições e pode prejudicar esse processo são as famosas Fake News que são enviadas em massa pelas redes sociais e pelos aplicativos de trocas de mensagens.

As fake news, geralmente surgem para condicionar o pensamento ou o comportamento das pessoas com um propósito específico. Outro problema é que muitas pessoas tendem a acreditar em teorias conspiratórias para reforçar pontos de vistas que elas já aprovam.

Em outras palavras, nosso próprio cérebro desvia nossa atenção para as notícias e comentários com os quais concordamos e nos faz ignorar aqueles que são diferentes e que vão contra as nossas crenças.

Essa distorção cognitiva é chamada de “viés de confirmação” e estudado por acadêmicos como o psicólogo Christopher French, professor da Universidade de Londres.

Por isso, é muito difícil desmentir a Fake News. Quando geralmente a verdade vem à tona, muitas pessoas negam a verdade chamando essas notícias reais de “Fake News”, afinal, é mais fácil acreditar em uma mentira que reforça seu ponto de vista do que lidar com a realidade e ter que reestruturar toda a sua maneira de pensar e enxergar a realidade.

Outro problema do viés de confirmação é que julgamos as pessoas que têm mesmas crenças e valores que nós como mais inteligentes e confiáveis. Também consideramos essas pessoas de moral e integridade mais elevados do que os outros.

Na política, se escolhemos um partido, seremos mais permissivos ao julgar os políticos que confiamos se eles estiverem errados. Além disso, tendemos a acreditar que eles estão se saindo melhor do que seus concorrentes.

Como evitar o viés de confirmação?

Evitar o viés de confirmação não é fácil. A melhor maneira de limitar sua influência é analisar suas decisões e as informações que você lê da forma mais objetiva possível. Uma boa estratégia é dar atenção especial às opiniões contrárias às suas.

Vale ressaltar que o viés de confirmação é um mecanismo de defesa do nosso cérebro. Existe apenas porque os humanos têm a tendência de odiar cometer erros ou perder argumentos. Quando isso acontece, áreas associadas à dor física são ativadas em nosso cérebro.

Se dar bem com pessoas que discordam é uma ótima maneira de desenvolver o pensamento crítico.  Não ignore ideias que não se encaixam em suas crenças. Para chegarmos mais perto de da realidade, devemos sempre pegar nossas teses, comparar com quem pensa o oposto ouvindo suas antíteses para só então chegarmos em nossas sínteses.

Não tenha medo de estar errado e de mudar de opinião, o pior é permanecer no erro.

Caso tenha dificuldade, considere procurar um psicólogo.

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