Compreender e apoiar filhos LGBTQIAP+ pode ser desafiador para muitos pais. É importante que os pais busquem apoio, inclusive de profissionais como psicólogos, para orientação sobre como lidar com essa situação muitas vezes nova e delicada.
A descoberta da orientação sexual ocorre frequentemente durante a pré-adolescência, um período em que os jovens começam a entender sua identidade. No entanto, nem todos os pais estão preparados para lidar com isso de forma tranquila e natural.
Cada vez mais, pais estão buscando orientação psicológica para aprender a apoiar adequadamente seus filhos LGBTQIAP+. Nos consultórios de psicologia, é comum muitos pais procurarem atendimento para seus filhos buscando reconvertê-los à heterossexualidade. Contudo, na grande maioria dos casos, os pais percebem que são eles que precisam de suporte e acompanhamento psicológico para entender e agir de maneira inclusiva e respeitosa em relação à orientação sexual de seus filhos.
O tabu da orientação sexual.
O tabu em torno da orientação sexual pode se manifestar de forma intensa quando os filhos decidem revelar aos pais que são LGBTQIAP+. Para muitos pais, essa revelação pode desencadear uma montanha-russa de emoções, desde o choque inicial até a confusão e, em alguns casos, até mesmo a rejeição. Esse tabu é enraizado em normas sociais antigas, crenças religiosas arraigadas e falta de educação sobre diversidade sexual e de gênero.
Muitos pais podem se sentir pressionados obrigar seus filhos a manter aos padrões heteronormativos da sociedade, alimentando assim o tabu em torno da orientação sexual. Essa pressão pode surgir de familiares, amigos e até mesmo de instituições religiosas que veem a homossexualidade, bissexualidade ou qualquer outra orientação não heterossexual como algo fora do comum ou até mesmo uma abominação.
Muitos religiosos afirmam que “a homossexualidade é um comportamento aprendido…” “… Ser gay é preferência, aprendida ou imposta.”
Eu e alguns autores como Catania (1999) discordamos dessas afirmações, pois “o comportamento que é socialmente transmitido só sobrevive por causa de suas consequências” (CATANIA, 1999). Ou seja, todos os comportamentos socialmente aprendidos são comportamentos selecionados por suas consequências e como a homossexualidade é um comportamento cujas consequências são culturalmente aversivas, essa afirmação não segue a lógica comportamental.
Em outras palavras, todos os nossos comportamentos socialmente aprendidos são mantidos porque são reforçados positivamente. Aprender um novo idioma, por exemplo, é um comportamento socialmente aprendido que é reforçado e estimulado pela nossa sociedade. Comportamentos que são rejeitados pela sociedade e passiveis de punição social, como o comportamento homossexual, não se manteriam, nessa lógica, pela falta do reforço positivo e da aprovação social. Logo, não há o que se falar em homossexualidade como comportamento meramente aprendido socialmente.
Segundo Guilhardi (2007), os comportamento e sentimentos homossexuais são regidos, em suma, pelas mesmas leis como qualquer outro comportamento e pelos mesmos princípios fundamentais que explicam as ações humanas, ou seja, estão suscetíveis como qualquer comportamento à herança genética (filogênese), aos processos biológicos de desenvolvimento dos indivíduos (ontogênese) e às práticas culturais da nossa sociedade.
Agora, convido você caro leitor heterossexual, que pensa que a homossexualidade é um comportamento aprendido ou uma escolha, a reflitir por um instante… Em algum momento da sua vida você parou e pensou: “Hummm, acho que vou ser heterossexual!” ou “Quero aprender a ser heterossexual, porque é mais legal.” Não né? Então, você acha mesmo que com um LGBTQIAP+, é assim que acontece?
Voltantando ao texto…
O medo do julgamento social também contribui para a perpetuação desse tabu. Pais podem temer que a revelação da orientação sexual de seus filhos leve a discriminação, exclusão ou até mesmo violência por parte da comunidade. Esses medos, embora compreensíveis, muitas vezes acabam reforçando a necessidade de ocultar a verdade e manter a família dentro de uma imagem de “normalidade”.
No entanto, à medida que a sociedade avança em direção à aceitação e inclusão, muitos pais estão começando a desafiar esse tabu e a aceitar seus filhos LGBTQIAP+. O apoio familiar desempenha um papel crucial no bem-estar emocional e mental dos jovens LGBTQIAP+, proporcionando-lhes um ambiente seguro e amoroso para se expressarem plenamente. É importante que os pais se eduquem sobre questões de orientação sexual e gênero, busquem apoio e, acima de tudo, amem e aceitem incondicionalmente seus filhos, independentemente de sua orientação sexual. Ao quebrar esse tabu, você ajuda a construir um mundo mais inclusivo e acolhedor para todos.
Meu filho(a) se revelou LGBTQIAP+, e agora?
Quando um filho revela sua identidade LGBTQIAP+, é comum os pais se sentirem desorientados e perplexos. Nossa sociedade atravessou séculos presa a uma cultura de negação e resistência em relação a esse tema.
É de suma importância que os pais evitem, em qualquer circunstância, rejeitar, humilhar, desrespeitar ou ridicularizar o jovem por sua orientação sexual. Em vez disso, é crucial oferecer todo o apoio, acolhimento e amor possível. A falta de aceitação dentro da família pode resultar em graves problemas psicológicos, como fobias, traumas e diversos distúrbios, além de afetar a saúde física e até levar o indivíduo LGBTQIAP+ ao uso de álcool, drogas. Em casos em que os pais chegam a expulsar os filhos LGBTQIAP+ de casa, é possivel que eles acabem recorrendo à prostituição para sobreviver.
Buscar ajuda profissional de um psicólogo é fundamental para os pais obterem informações corretas e aprenderem a lidar com a situação de forma apropriada.
As pessoas LGBTQIAP+ frequentemente passam por um processo prolongado de auto-aceitação de si mesmos. Por isso, é importante que a família transmita confiança e mantenha um canal de comunicação aberto.
Mesmo que os pais estejam preparados, é natural que fiquem surpresos com a revelação. No entanto, é essencial compreender que a orientação sexual é uma manifestação natural da diversidade humana e não pode ser modificada.
Se você sentir dificuldades em lidar com essa questão, a consulta com um psicólogo pode ser extremamente útil para aprender lidar com essa nova realidade. Pais conscientes não devem temer desafiar uma sociedade cheia de tabus para apoiar seus filhos e, ao fazê-lo, também podem ajudar outros pais a compreender e aceitar a diversidade sexual.
Ficou em dúvida sobre a sigla LGBTQIAP+? Leia também: LGBTQIAP+: O Glossário da diversidade sexual.
Referências:
CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed, 1999.
GUILHARDI, H. J. Pergunta dos leitores: como a TCR vê a homossexualidade?, 2007. Jornal Sinal Verde. Disponível em: <ITRC Campinas> Acesso em 30 maio. 2024.