Na correria do dia a dia, a rotina se torna uma sucessão de eventos: acordar, trabalhar, almoçar, trabalhar, jantar e dormir, o que deixa pouco espaço para pausas ou outras atividades. É comum ouvir pessoas que se queixam de que o tempo está passando muito rápido. Por outro lado, há quem reclame que o tempo está muito lento, se arrastando. O que de fato acontece?
De acordo com Rafael Samhan Martins, professor de física do Colégio Liceu Albert Sabin, de Ribeirão Preto, a sensação de rapidez ou lentidão do tempo está associada à concentração e à satisfação experimentadas ao realizar atividades cotidianas. “Quando estamos envolvidos em atividades que exigem nossa total atenção, como assistir a um filme ou realizar tarefas complexas, há uma dilatação temporal. Desviamos nossa concentração e não percebemos o tempo passando, resultando em uma experiência que parece ter durado apenas alguns minutos”.
O contraponto ocorre em situações de tédio ou isopostas, nas quais o olhar constante para o relógio cria a sensação de que o tempo se estende indefinidamente. “Você fica pensando no tempo, então ele começa a ‘passar mais devagar’, porque você está percebendo ele”, explica o físico.
Percepção temporal.
Mas o que é a percepção temporal? Para Deusivania Falcão, professora de gerontologia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, o conceito de percepção temporal é a interação de fatores biopsicossociais, históricos e culturais, como o nascimento de alguém querido, um casamento, uma formatura ou conquistas pessoais.
“Esses eventos exercem uma influência significativa na construção da percepção global do tempo. Nesse contexto, a saúde mental e emocional desempenha um papel crucial na forma como a percepção temporal manifesta”, analisa a especialista.
E, apesar da percepção do tempo ser única para cada indivíduo, Deusivania explica que existem nuances e semelhanças na percepção temporal entre diferentes faixas etárias. E, de acordo com a especialista, a sensação de rapidez do relógio é sentida especialmente pelos idosos.
Ela explica: crianças e adolescentes tendem a perceber o tempo como passando mais lentamente, possivelmente devido à novidade constante, às experiências de aprendizagem e exploração. “Eu me recordo que, quando era criança, olhava para uma pessoa mais velha e dizia: ‘Nossa, vai faltar tanto tempo para eu chegar àquela idade’. Eu realmente achava que o tempo demorava mais, meu dia era longo.”
Já na terceira idade, a especialista aponta que a percepção temporal é resultado de uma combinação de fatores psicológicos, sociais e biológicos, como mudanças na cognição, declínios na memória e na capacidade de processamento de informações, que influenciam como os eventos são registrados e percebidos, contribuindo para a sensação de que o tempo está passando mais rápido, já que as experiências podem não ser retidas detalhadamente.
Relógio Social.
A professora também introduz o conceito de Relógio Social, desenvolvido pela psicóloga americana Bernice Neogarten, que explora como normas e expectativas sociais moldam nossa percepção temporal.
“As sociedades estabelecem normas e expectativas em relação às diferentes fases da vida. Isso afeta a percepção do tempo, pois as pessoas internalizam essas normas e as utilizam para avaliar se estão seguindo um cronograma socialmente esperado”, esclarece.
Mas o fato é que o tempo, em si, não está acelerando, “é uma percepção, e toda percepção pode ser equivocada, já que é possível estar interpretando algo que não corresponde à realidade”, afirma Samhan.
O professor ilustra a relatividade do tempo com uma fala de Einstein: “Um minuto sobre brasas pode parecer uma eternidade, enquanto um minuto próximo a alguém querido pode parecer efêmero”.
Ele também expõe por que o tempo não sofre alterações ao se embasar na física clássica: “O tempo é considerado uma grandeza absoluta, sendo tanto o tempo quanto o espaço vistos como absolutos e invariáveis por Newton e Galileu”.
Para eles, o tempo é definido como o intervalo de repetição entre dois eventos, como o conceito de ano, que representa a repetição cíclica das estações. “Com quatro estações marcando essa variação, podemos considerar a passagem de um determinado tempo como a conclusão de um ciclo específico”, ele esclarece.
Autora: Deusivania Falcão
Fonte: Jornal da USP
Nota: Se você tem dificuldade de lidar com questões relacionadas a passagem temporal e com as mudanças em sua vida, considere buscar um psicólogo.