Como ajudar alguém em um surto psicótico.
Perder a conexão com a realidade de forma súbita pode ser uma experiência aterradora. A pessoa afetada pode começar a perceber coisas que não existem ou ter ideias que parecem totalmente desconectadas da realidade. Esses episódios, conhecidos como surtos psicóticos, geram um sofrimento intenso e comprometem a capacidade de funcionar nas atividades diárias. Dado o impacto profundo que causam, é essencial saber como prestar suporte adequado a alguém que está passando por essa crise.
Apesar de muitas pessoas pensarem que nunca estarão expostas a uma situação desse tipo, esses surtos podem ocorrer mesmo sem que haja uma condição mental pré-existente. Portanto, é fundamental estar preparado para lidar com esse tipo de situação quando ela surgir. A seguir, discutiremos as melhores formas de oferecer ajuda.
O que é um surto psicótico?
A psicose não é um transtorno por si só, mas sim um sintoma de diferentes condições psicológicas. Esse estado é caracterizado pela desconexão com a realidade, o que provoca alterações na percepção, pensamento e comportamento da pessoa. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) inclui uma série de condições em que a psicose pode se manifestar, como esquizofrenia, transtorno delirante ou transtorno esquizoafetivo. Além disso, há o transtorno psicótico breve, que descreve os surtos psicóticos de curta duração.
Esse tipo de surto pode durar entre um dia e um mês, e, ao contrário de outras condições, tende a se resolver por conta própria dentro desse período. Contudo, há casos em que ele pode se repetir ou ser causado por uma condição mental subjacente. Os principais sintomas de um surto psicótico incluem alucinações, delírios, fala desorganizada e, em alguns casos, comportamentos catatônicos.
Como lidar com um surto psicótico?
Durante um surto psicótico, a pessoa perde o contato com a realidade, o que pode causar grande sofrimento e comprometer suas funções cotidianas. Então, como devemos agir para ajudar quem está passando por essa crise? A seguir, apresentamos algumas orientações com base em um estudo realizado pelo Serviço de Saúde da Andaluzia (2021).
1 – Identifique os primeiros sinais de alerta.
Antes de um surto psicótico, a pessoa pode começar a apresentar sinais e comportamentos diferentes, que podem servir como alertas. Entre esses sinais, é possível observar apatia, isolamento, mudanças de humor, distúrbios no sono ou no apetite, além de percepções estranhas (como ouvir vozes ou ter pensamentos paranoicos sobre ser observado ou perseguido). Estar atento a esses sinais pode ser crucial para buscar ajuda antes que a situação se agrave.
2 – Esteja presente e mostre empatia.
Em momentos de surto psicótico, é essencial que a pessoa se sinta compreendida e apoiada. A pessoa pode se sentir confusa e desorientada, o que a leva a agir de maneira imprevisível. Para ela, suas experiências são reais, e pode haver resistência a qualquer forma de julgamento. Por isso, é fundamental se comunicar de maneira calma, usando frases curtas e simples, em um ambiente tranquilo e com poucos estímulos. O objetivo é mostrar que você se importa, sem julgá-la.
3 – Ajude a pessoa a reconectar com a realidade.
Uma das principais intervenções durante um surto psicótico é ajudar a pessoa a se reconectar com a realidade. Técnicas de enraizamento, como as recomendadas pela Mental Health America, podem ser muito úteis nesse processo. Essas técnicas consistem em usar os cinco sentidos para trazer a pessoa de volta ao presente, como oferecer uma bebida quente, sentir os pés no chão, mostrar objetos e pedir para a pessoa descrevê-los detalhadamente, permitir que ela sinta diferentes aromas ou comentar sobre o ambiente ao redor.
4 – Ofereça apoio prático.
Além do apoio emocional, o apoio prático também é essencial. Durante um surto psicótico, a pessoa pode ter dificuldades em realizar atividades cotidianas, por isso é importante ajudar em tarefas como acompanhar a pessoa a compromissos, orientá-la em questões do dia a dia e principalmente lembrá-la de tomar medicação.
5 – Busque orientação profissional.
Gerenciar um surto psicótico exige ajuda profissional. Nos momentos mais intensos, pode ser necessário procurar serviços de emergência. A longo prazo, o acompanhamento de psiquiatras, psicólogos e outros profissionais é fundamental para tratar a condição e evitar que os surtos se repitam. Embora a pessoa possa resistir ao tratamento, os familiares podem desempenhar um papel importante ao explicar os benefícios da ajuda profissional e apoiar a pessoa ao longo do processo.
No Brasil, os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS oferecem serviços de saúde abertos para a comunidade. Uma equipe diversificada trabalha em conjunto para atender às necessidades de saúde mental das pessoas, incluindo aquelas que enfrentam desafios relacionados as necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool e outras drogas. Esses serviços estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde – SUS e são especialmente focados em ajudar em situações difíceis ou no processo de reabilitação psicossocial.
6 – Entenda que a calma e o conhecimento são fundamentais.
Para ajudar alguém em surto psicótico, é essencial entender o que está acontecendo. Conhecer os sintomas e as causas da psicose ajuda a reduzir o medo e a incerteza diante da situação. Manter a calma é igualmente importante, pois isso transmite segurança à pessoa afetada. Buscar orientação médica e psicológica é um passo importante para garantir o apoio adequado tanto para a pessoa em crise quanto para os familiares, que também precisam de suporte nesse momento desafiador.
Atenção: Este texto tem caráter informativo. O psicólogo Paulo Alencar não oferece tratamento ou aconselhamento imediato para pessoas em surto psicótico. Em caso de emergência, procure atendimeto em um hospital mais próximo. Para pessoas em tratamento de surto psicótico, o Conselho Federal de Psicologia recomenda o atendimento psicológico presencial. O atendimento psicológico online não é recomendado para situações como surto psicótico.
