O que é despersonalização/desrealização?
A despersonalização é um distúrbio caracterizado pela experiência persistente de desconexão entre o indivíduo e seu próprio corpo, bem como seus pensamentos. Dentro desse quadro, o paciente vivencia uma sensação de observar externamente suas próprias experiências corporais e mentais, sem a capacidade de influenciar ou alterar essa experiência.
Alguns pacientes descrevem esses episódios como uma sensação de serem meros observadores, quase como se estivessem em um estado de “zumbificação”.
Já a desrealização se caracteriza quando o indivíduo percebe o ambiente ao seu redor como irreal ou artificial. A sensação é frequentemente comparada a uma espécie de neblina ou barreira de vidro que separa o indivíduo de seu entorno.
Geralmente, quando alguém está passando por um episódio de despersonalização, também pode manifestar sintomas de desrealização.
Essa experiência inicial de despersonalização/desrealização pode variar em duração, podendo persistir por horas, dias ou até mesmo semanas. A manifestação dos sintomas pode ser súbita ou gradual, e muitas vezes esses sintomas tendem a piorar ao longo do tempo.
Causas .
Em relação às causas, diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento desse quadro. Algumas das principais causas incluem:
- Estresse intenso: Experiências significativas de estresse podem desencadear a despersonalização.
- Fadiga extrema: O esgotamento físico e mental pode contribuir para a desconexão entre o indivíduo e suas próprias experiências.
- Uso de substâncias: O consumo de entorpecentes e drogas recreativas, tais como a maconha e alucinógenos, pode desencadear episódios de despersonalização.
- Falta de sono ou estímulos sensoriais: A privação de sono ou de estímulos sensoriais adequados pode influenciar na percepção da realidade.
- Condições psicológicas: A despersonalização pode estar associada a quadros de depressão e ansiedade.
- Experiências traumáticas: Traumas emocionais e físicos, especialmente vivenciados na infância, assim como abusos ou testemunho de violência, podem contribuir para a manifestação desse distúrbio.
Em alguns casos, a despersonalização/desrealização também podem surgir como resultado de processos de luto, onde a pessoa lida com uma perda significativa de maneira que afeta sua percepção de si mesma e do mundo ao seu redor.
Sintomas.
Os sintomas do transtorno de despersonalização manifestam-se de maneira intrigante e complexa, abrangendo um conjunto de experiências emocionais e perceptuais. Alguns dos sintomas característicos incluem:
- Desconexão corporal: O indivíduo vivencia a sensação de estar separado de seu próprio corpo, como se estivesse observando-o de fora.
- Observador externo: Há a percepção de ser um mero espectador de suas ações e do funcionamento de seu corpo, assemelhando-se a observar imagens de si mesmo, como se não estivesse diretamente envolvido.
- Falta de pertencimento ao corpo: Surge a sensação de que o corpo não lhe pertence, criando uma distância entre o indivíduo e suas próprias sensações físicas.
- Desconhecimento do reflexo: O paciente pode não se reconhecer ao olhar no espelho, como se a imagem refletida não correspondesse à sua própria identidade.
- Perda de controle: O indivíduo sente-se desprovido de controle sobre suas ações e palavras, como se estivesse agindo automaticamente, sem influência consciente.
- Embotamento emocional e físico: Manifesta-se um entorpecimento tanto em termos emocionais quanto físicos, resultando em uma desconexão das sensações internas e externas.
Os sintomas relacionados à desrealização, por sua vez, englobam:
- Desconexão do ambiente: O indivíduo experimenta uma sensação de desconexão em relação ao ambiente ao seu redor.
- Barreira perceptual: Percebe-se uma espécie de névoa ou barreira imaginária, como um vidro, que separa o indivíduo de seu entorno, semelhante a uma experiência de sonho durante a vigília.
- Alterações na percepção: O ambiente pode ser percebido de forma distorcida, com objetos parecendo mais nítidos ou desfocados, planos ou alterados. Além disso, a percepção do tempo pode se modificar, passando mais rápido ou devagar.
É fundamental ressaltar que, tanto na despersonalização quanto na desrealização, o indivíduo mantém a consciência de que essas experiências são uma interpretação alterada de sua realidade e não uma transformação permanente.
Tratamento.
É absolutamente verdadeiro que o transtorno de despersonalização/desrealização pode, em alguns casos, desaparecer espontaneamente sem intervenção. A decisão de iniciar um tratamento ocorre principalmente quando os sintomas persistem, retornam com frequência ou causam angústia significativa à pessoa afetada.
Na abordagem terapêutica, tanto a psicoterapia psicodinâmica quanto a terapia cognitivo-comportamental têm demonstrado eficácia para algumas pessoas que enfrentam esse transtorno. É notável que o transtorno de despersonalização/desrealização frequentemente esteja interligado a outros transtornos mentais, como ansiedade ou depressão, que podem ser os desencadeadores ou associados a esse quadro. Em muitos casos, o tratamento precisa se concentrar também nos transtornos coexistentes.
Diversas técnicas podem ser empregadas para ajudar no manejo dos sintomas:
- Técnicas cognitivas: Auxiliam na interrupção de pensamentos obsessivos sobre a sensação irreal de ser, promovendo uma reorientação cognitiva mais saudável.
- Técnicas comportamentais: Focam em direcionar a atenção da pessoa para atividades que a distraiam da experiência de despersonalização.
- Técnicas de retorno à realidade: Utilizam os sentidos para reconectar a pessoa consigo mesma e com o ambiente. Exemplos incluem ouvir música alta ou sentir uma sensação tátil intensa, como um pedaço de gelo na mão.
- Técnicas psicodinâmicas: Concentram-se em explorar e resolver conflitos emocionais, sensações negativas e situações das quais a pessoa busca se dissociar.
- Monitoramento e identificação: A pessoa é orientada a registrar e identificar momentos de dissociação e suas expressões emocionais, o que pode ajudar na autopercepção e na conexão com o momento presente.
É importante mencionar que, apesar de diversos medicamentos terem sido usados no tratamento do transtorno de despersonalização/desrealização, a eficácia comprovada desses medicamentos é limitada. Ansiolíticos e antidepressivos podem ser prescritos para tratar sintomas de ansiedade e depressão frequentemente associados a esse transtorno.
No entanto, há uma cautela especial ao usar ansiolíticos, pois eles também podem potencialmente intensificar a sensação de despersonalização/desrealização. É de extrema importancia que um médico psiquiatra monitore de perto o uso desses medicamentos, avaliando seus efeitos na condição do paciente.